30 de abr. de 2008

Invictus

É de morte

De quem são os versos usados
pelo terrorista McVeigh

Não é fácil ser poeta. É preciso cortejar as musas, lutar contra a indiferença do público e a maldade dos críticos. Com sorte, alguns de seus versos sobrevivem e chegam às gerações futuras. Mas nem aí sua obra está a salvo. Quando menos se espera, um assassino resolve lançar mão dela. Foi o que ocorreu com o poeta inglês William Ernest Henley (1849-1903) na segunda-feira da semana passada. Nesse dia, pouco antes de ser executado com uma injeção letal, o terrorista americano Timothy McVeigh, responsável pelo atentado que matou 168 pessoas em Oklahoma seis anos atrás, ouviu a pergunta de praxe: "Você quer dizer suas últimas palavras?". Calado, ele estendeu ao policial uma folha com um poema escrito a mão. Em tradução literal, os últimos versos diziam: "Não importa o quão difícil a passagem/ A quantidade de condenações que recaiam sobre mim/ Eu sou o mestre do meu destino/ Eu sou o capitão da minha alma". Não, a iminência da morte não transformou McVeigh em bardo. Na verdade, ele tomou emprestados os versos do poema Invictus, obra mais famosa de Henley. No fim do século XIX, esse venerável cavalheiro vitoriano era uma das principais figuras do meio literário de seu país. Editou os primeiros escritos de autores como Thomas Hardy, George Bernard Shaw e H.G. Wells. Também foi grande amigo do romancista Robert Louis Stevenson, que se inspirou nele, que havia perdido um pé por causa de uma doença, para criar o pirata aleijado Long John Silver, personagem do livro A Ilha do Tesouro. De sua própria lavra, o escritor produziu, além de poemas, ensaios – um dos quais, curiosamente, contra Stevenson. Pobre Henley. Dedicou a vida a promover a cultura. Acabou usado para glamourizar um bárbaro.

Fonte: VEJA on-lne - Edição 1 705 - 20 de junho de 2001


Invictus

by William E Henley

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate;
I am the captain of my soul.

Invictus

(Título Original: "Invictus")

Autor: William E Henley
Tradutor: André C S Masini

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

Copyright © André C S Masini, 2000
Todos os direitos reservados. Tradução publicada originalmente
no livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa"


O Autor:

William Ernest Henley, nasceu em Gloucester, Inglaterra, em 23 de agosto de 1849, primogênito de seis irmãos, filho de um modesto vendedor de livros. Apesar da difícil condição financeira, seu pai conseguiu enviá-lo para uma escola secundária, Crypt Grammar School, que não pode concluir por motivos de saúde e financeiros. Tinha apenas doze anos de idade quando foi diagnosticada sua artrite decorrente do bacilo da tuberculose. Aos dezesseis teve a perna esquerda amputada abaixo do joelho. Em 1867, perdeu seu pai, tornando-se arrimo de sua mãe viúva e de seus irmãos. Em 1869 mudou-se para Londres onde conseguiu emprego como jornalista autônomo. Em 1872 sua doença o compeliu a viajar em tratamento para Edimburgo, Escócia, onde escreveu a coleção de poemas In Hospital e se apaixonou por Anna Boyle, com quem viria a se casar. Em 1875 tornou-se amigo íntimo de Robert Louis Stevenson que fora levado ao hospital para lhe conhecer. Nesse mesmo ano teve alta e retornou a Londres, onde se tornou editor da revista London. Em 1878 casou-se com Anna Boyle com quem teve sua única filha, Margaret, em 1888, que faleceu de meningite apenas 5 anos depois. Em 1889, tornou-se editor da revista Scots Observer, onde, nesse mesmo ano, escreveu uma crítica desfavorável de O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde que desencadeou uma célebre controvérsia entre ambos. Henley era um homem entusiasmado e apaixonado, com opiniões veementes e emoções intensas, e teve discussões com muitos outros contemporâneos. Permaneceu como editor de Scots Observer (cujo nome havia mudado para “National Observer”) até 1894, após o que morou em várias cidades inglesas com sua esposa. Morreu em 1903 de tuberculose.

Copyright © André C S Masini, 2000
Essa biografia é obra registrada, com todos os direitos reservados, publicada
originalmente no livro "Pequena Coletânea de Poesias de Língua Inglesa"




8 de abr. de 2008

A Felicidade - Tom Jobim





A Felicidade

Tom Jobim

Composição: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim