23 de jul. de 2007

Genealogia da Moral

NIETZSCHE “A genealogia da Moral”. Trad. A.A. Rocha, Rio de Janeiro, Tecnoprint Gráfica S.A.

Prefácio:
A Genealogia da moral é composta de três partes:
1) Da origem e da essência do cristianismo, que consiste na reação e insurreição contra o predomínio dos valores aristocráticos.
2) A crueldade é um elemento da civilização, que não pode ser reprimido: a consciência é o instinto da crueldade, que se dobra sobre si mesmo depois de não ter podido desafogar-se externamente.
3) Explica a força do ideal ascético-religioso, pois é o único proposto aos homens.

Prefácio:
“Nos os investigadores do conhecimento, desconhecemo-nos.” Nem a respeito de nós mesmos procuramos o conhecimento. 17-18
II
Pergunta pela origem de nossos preconceitos morais, as idéias de bem e de mal, que segundo o autor, brotavam da vontade de conhecimento, que dirige as forças mais íntimas e fala com uma linguagem cada vez mais nítida. 18-19
A invenção humana das apreciações bem e mal, são um sintoma funesto de empobrecimento vital, de degeneração? Ou indicam, pelo contrário, a plenitude, a força e vontade de viver. 20
IV
“Minha teoria da justiça considerada como equilíbrio de poderes iguais.” 21
V
O altruísmo que Schopenhauer elevara as regiões sobrenaturais, como valores substanciais, nos quais fundou sua negação a vida. Via eu precisamente a tentação a sedução suprema que conduzia ao nada. Esta moral de compaixão era o sintoma mais perigoso da nossa civilização européia. 22-23
VI
Necessitamos uma crítica dos valores morais, e antes de tudo deve discutir-se o valor destes valores, e por isso é de toda a necessidade conhecer as condições em que nasceram, em que se desenvolveram e deformaram. 23
VII
A verdadeira história da moral é Genealogia da moral. 25
Dissertação Primeira
Bem e mal, bom e mau.
I
Psicólogos ingleses procuram o princípio ativo da evolução na faculdade do esquecimento. Que saibam refrear o coração e sacrificar os seus desejos à verdade, a toda a verdade, suja, repugnante, anticristã e imoral, porque tais verdades existem. 29 - 30
II
As ações altruístas foram louvadas e reputadas boas por aqueles a quem eram úteis; esqueceu-se a origem deste louvor e chamaram-se boas por costume adquirido, como se fossem boas em si mesmas. 30 - 31
A origem da antítese Bom e Mal vem da oposição de uma raça superior a uma raça inferior, como ato de autoridade que emana dos que dominam. 32
III
Herbert Spencer considera os conceitos bom e útil como de essência semelhante. 33
IV
Bom nasce da idéia de distinção de nobreza, paralela a noção de vulgar plebeu e mau. O preconceito democrático põe obstáculo a investigação inerente às origens. 33 - 34
V
Na Grécia, os nobres eram os verídicos, por oposição aos embrutecidos da plebe. Em Roma bônus seria o homem da disputa, o guerreiro. 36
VI
Puro, homem que se lava, não coabita com as mulheres sujas da plebe e que tem horror ao sangue. Há desde o início algo mórbido nestas aristocracias sacerdotais. A metafísica sacerdotal hostil aos sentidos. 37
VII
Sacerdotes x aristocracias guerreiras. Inimigos mais vingativos, porque mais impotentes os judeus vingaram-se dos dominadores, por uma radical mudança de valores. Atiraram por terra a equação bom, nobre, piedoso, formoso feliz…
VIII
Do ódio saiu um amor novo. “Este Jesus de Nazaré, não era…, a sedução que por um rodeio, havia de conduzir os homens a adotar os valores judaicos.” 41
IV
O povo é que venceu; os escravos, tudo se judaíza, se cristianiza e se aplebéia a olhos vistos. 42
X
Enquanto que toda a moral aristocrática nasce de uma triunfante afirmação de si mesma, a moral dos escravos opõe um não a tudo o que não é seu este não é o seu ato criador. 43
A moral dos escravos necessitou sempre de um mundo oposto exterior, sua ação é uma reação. A moral aristocrática cresce espontaneamente. Os aristocratas eram os felizes e não tinham a necessidade de construir artificialmente sua felicidade como os rancorosos. 44
XI
O aristocrata tira do seu próprio eu a idéia fundamental de bom donde tira por antítese a de mau. O mau do rancoroso é a idéia original. 46
Perguntai aos escravos qual é o mal, o personagem que para a moral aristocrática é bom, a fera aristocrática. 47
Se a finalidade da cultura é domesticar a besta humana, são instrumentos da cultura todos estes instintos de reação. São a vergonha da humanidade. 49
XII
Que os cordeiros tenham horror às aves de rapina, compreende-se; mas não é uma razão para querer mal às aves de rapina. 51
Os esmagados cheios de impotência se põe a dizer O bom é o que não injuria a ninguém, nem ofende nem ataca, nem usa de represálias, se não que deixa a Deus o cuidado da vingança e vive oculto como nós e evita a tentação e espera pouco da vida como nós os pacientes, os humildes, os justos. 52
É um instinto de conservação pessoal. 53
XIV
Aqui a mentira chama bondade à impotência, humildade à baixeza, obediência à submissão forçada. A covardia chama-se paciência. Agora dizem que não só são melhores do que os poderosos e do que os governantes, cujas pisadas beijam, mas que seu lote de eternidade é muito melhor. Esta oficina onde se fabrica o ideal, cheira-me a mentira, a embuste. 54
Não pedem represálias, mais justiça e esperam o triunfo do Deus da justiça. 55
XV
Estes fracos querem ser algum dia os fortes: o seu reino chegará um dia; e são tão humildes que o chamam reino de Deus. 56
“Os dois valores opostos ‘bom e mau’, ‘bem e mal’ mantiveram durante milhares de anos um combate largo e terrível” 58
“O símbolo desta luta é Roma contra a Judéia, Judéia contra Roma” Roma via no judeu uma natureza oposta a sua, um antípoda monstruoso, um ser convicto de ódio contra o gênero humano e com razão se é certo que a salvação e o futuro da humanidade consiste no domínio absoluto dos valores aristocráticos, dos romanos.” 59
“Qual dos povos venceu, Roma ou Judéia? Os judeus. 59
XVII
“Todas as ciências devem preparar ao filósofo a sua tarefa, que consiste em resolver o problema da avaliação, em determinar a hierarquia dos valores.” 62


A falta, a má consciência e o que nos afigura:
I
O esquecimento é um poder ativo, uma faculdade moderadora. 63
“ unicamente, pela moralização dos costumes e pela camisa-de-força social, chegou o homem a ser realmente apreciável.” 64
II
O fruto mais maduro é o indivíduo soberano, senhor de uma vasta e indomável vontade, acha nessa posse a sua tábua de valores para julgar os outros, é dono de sua promessa. 65 - 66
III
Dor auxílio mais poderoso da memória, fixando cinco ou seis não quero. 68 -69
IV
Como a consciência da falta veio ao mundo? Antes se castigava pela cólera que o dano excita.
V
“Concedia-se ao credor certa satisfação e gozo de exercer impunemente o seu poderio com respeito a um ser reduzido a impotência, o deleite de fazer o mal pelo gosto de o fazer.” O credor participa do direito dos amos, e conclui por saborear o sentimento enobrecedor de desprezar e maltratar a quem esteja por baixo dele. A compensação consiste, pois no direito de ser cruel. 73
VI
A idéia de vingança torna mais espessa as trevas. “Ver sofrer, alegra, fazer sofrer, alegra mais ainda; há nisso uma antiga verdade humana, demasiado humana”, “Sem crueldade não há gozo, o castigo é uma festa” 75
VII
A vida sobre a terra era mais feliz, na sua porfia por converter-se em anjo, o homem conseguiu esta fraqueza de estômago que lhe tornaram insípida e dolorosa a vida. 76
VIII
Sentimento do dever, tem origem nas relações entre credor e devedor. Tudo tem seu preço, tudo pode ser pago. Este foi o cânon moral da justiça, o mais antigo e mais ingênuo, o começo de toda bondade. 79
IX
O castigo do inimigo é o grito de guerra, o triunfo em toda a sua inexorável crueldade. 80
X
O credor humanizou-se conforme foi enriquecendo. 80
“Sem a instituição da lei não pode haver questão de justiça” Uma infração, uma violação, uma espoliação, não podem ser injustas em si procedendo a vida essencialmente por infração, violação e espoliação. As condições de vistas legais são restrições da vontade de viver propriamente dita à qual tende a dominação. A organização jurídica é arma contra a luta. 85
XII
“Uma vez produzida uma coisa, vê-se submetida necessariamente a potências que usam delas para fins distintos (…) Isso poderá desagradar aos velhos, pois sempre se julgou achar nas causas finais de uma forma ou instituição a sua razão de ser própria.” 86 Se a forma é fluida, a finalidade tanto mais o é. O progresso se mede pelos sacrifícios que requer; a humanidade em massa sacrificada nas aras dos mais fortes, eis um progresso. 87
XIII
O castigo não tem uma só finalidade mais uma síntese de finalidades. 89
XIV
O castigo encontra sua utilidade em todas as suas circunstâncias, ser-me-á lícito negar-lhe uma utilidade essencial. 91
“O castigo endurece concentra e aguça os sentimentos de aversão; aumenta a força de resistência.”
“O castigo foi o que mais atrasou o desenvolvimento do sentimento de culpabilidade, pelo menos entre as vítimas das autoridades repressivas.” 92
“E o castigado considerava o castigo como também lote do destino, e não sentia outra pena interior, como se fosse vítima de uma catástrofe imprevista”… 93
XV
“Se algum efeito produzia o castigo, era o aumento da perspicácia, o desenvolvimento da memória, a vontade de operar para diante com mais prudência, com mais precaução” O castigo doma o homem, mas não o melhora. 94
XVI
“Estes semi-animais, acostumados a vida selvagem, à guerra, viram-se obrigados de repente a renunciar a todos os seus nobres instintos.” 95
Os instintos sob a enorme força repressiva, volvem para dentro, a isto se chama interiorização do homem: assim se desenvolve o que mais tarde se há de chamar “alma”. A ira, a crueldade se dirige contra o possuidor de tais instintos; eis a origem da má consciência. 96 Como se o homem não fosse apenas uma transição.
XVII
Tendo começado por um ato de violência, não podia ser levado a cabo senão por outros atos de violência. O Estado primitivo deveu entrar em cena com todo o caráter de uma espantosa tirania. Tal é a origem do Estado; a sua obra consiste em criar formas e imprimir cunho. 98
Neles não germinou a má consciência, mas sem eles não teria brotado esta planta horrível. 99
XVIII
A mesma força que vimos operar nestes organizadores do Estado, atuando para o interior criou a má consciência. ( vontade de alguém se torturar) 99
XIX
O temor ao antepassado á medida que a raça vai sendo mais vitoriosa. A decadência da raça diminuem sempre a veneração e temor que inspira o espírito fundador da raça. O antepassado concluirá por tomar a figura de um deus. 102
XX
Assim como a humanidade herdou os conceitos “bom e mau” da aristocracia, o sentimento de uma dívida para com a divindade não cessou de crescer, segundo foi crescendo e se foi desenvolvendo a idéia de Deus. 103
O advento do Deus cristão, que é a expressão mais alta do divino, produziu também o máximo do sentimento de obrigação. O triunfo completo do ateísmo há de libertar a humanidade de todo o sentimento de obrigação com respeito a sua causa prima.
XXI
“Deus mesmo, oferecendo-se em sacrifício para pagar as dívidas do homem, … o credor oferecendo-se pelo devedor, por amor ao devedor, quem o acreditaria!” 105
XXII
“Uma obrigação para com Deus: esta idéia foi, porém o instrumento de Tortura.” (…) “Transformou estes instintos em faltas para com Deus.” “Negou a natureza para afirmar o real, o vivo, o verdadeiro Deus, Deus, santo,… Há uma espécie de demência da vontade nesta crueldade psíquica.” 106
XXIII
Entre os gregos, serviram-se dos seus deuses para se imunizarem contra as veleidades de má consciência, para gozar pacificamente da sua liberdade. 107
XXIV
“Em algum tempo mais robusto que o atual, será necessário que venha este homem redentor do grande amor e do grande desprezo, este espírito criador cuja força de impulso o fará ir cada vez mais longe de todo o sobrenatural,”… 109 “Este homem do futuro, que nos há de libertar do ideal do presente e da sua natural conseqüência, o grande tédio, o niilismo.” 110




Qual é o fim de todo o ideal ascético?
I
O ideal ascético, uma forma sagrada de libertinagem, entre os sacerdotes, a verdadeira fé sacerdotal, o seu melhor instrumento de poder, o seu melhor direito ao governo. 111
II
Entre a castidade e a sensualidade não há necessariamente opção; todo bom matrimônio, toda a boa paixão estão superiores a esta oposição. 112
III
Seguia Wagner a frase de Feuerbach: “só sensualidade” ressoou em toda a Alemanha.
IV
Se despede com um Parsifal Schpenhaueriano.
V
Qual é pois o objeto de todo o ideal ascético? No artista já vimos: nenhum! Foram sempre humildes servidores de uma moral, de uma filosofia, ou de uma religião. 116
VI
Kant … pelo encanto da beleza, pode olhar-se desinteressadamente uma estátua viva de mulher, hão de permitir-nos que nos riamos um pouco a sua custa. 118
Schopenhauer nunca deixou de glorificar esta maneira de libertar-se da vontade, esta grande vantagem e utilidade da condição estética. Schopenhauer fez mal em apoiar-se na definição de Kant, posto que lhe agrade a beleza precisamente por um interesse muito pessoal: pelo interesse de se libertar da sua tortura e suplício. 120 -121
VII
Schopenhauer, que tratou a sexualidade como inimigo pessoal, necessitava de inimigos para estar de bom humor. A sua cólera foi para ele, o mesmo que para os cínicos da antigüidade, um bálsamo, um descanso, o seu remédio contra o tédio, a sua felicidade. 122
VIII
Pobreza, humildade, castidade estão presentes em todos os espíritos fecundos e criadores. 125
“O filósofo distingue-se em evitar três coisas brilhantes e ruidosas: a glória, os príncipes e as mulheres.” O que possui é possuído. 127
No que diz respeito a castidade, é evidente que a fecundidade dos filósofos manifesta-se de outro modo que pela procriação. Não há aqui escrúpulo ascético, mas é o que lhe exige seu instinto dominante. 128
IX
Certo ascetismo favorece, segundo vimos, o desenvolvimento de uma espiritualidade superior. 129
“Toda a nossa posição com relação a natureza é híbrida (…) híbrida é a nossa posição com respeito a Deus, essa teia de aranha de imperativo e de finalidade que se oculta por detrás da grande teia, por detrás da causalidade…” 130
“Todas as coisas boas foram noutro tempo más ; todo pecado original veio a ser virtude original” 131
A submissão ao direito; Ho que revolução de consciência em todas as raças aristocráticas… O direito foi instituído com violência e opróbrio.” 131
X
“Brâmanes. Estes antigos filósofos sabiam dar à sua existência, ao seu aspecto exterior, um fundo que os tornava temidos. A mortificação foi o meio que empregaram para se convencerem de sua inovação espiritual.” 133
XI
“O sacerdote tirou do seu ideal ascético não só a sua fé, mas também a sua vontade, o seu poder, o seu interesse” 134
“Há, pois alguma necessidade de ordem superior que dá origem a esta espécie inimiga da vida, há na vida mesma algum interesse da vida, há na vida mesma algum interesse de não deixar perecer esse tipo contraditório”. 135
XII
“ terá por ilusão a materialidade, a dor e a pluralidade, o sujeito e o objeto” 136
“ Negar a realidade do eu, que triunfo! Não já um triunfo sobre os sentidos, mas muito mais elevado: o triunfo violento e cruel contra a razão. 156
“A sua futura objetividade é a faculdade de dominar o pró e o contra, servindo-se de um e de outro para a interpretação dos fenômenos e das paixões.” 137
Mas eliminar a vontade, suprimir inteiramente as paixões, … seria suprimir a inteligência.” 137
XIII
“O ideal ascético é um destes artifícios; é pois, todo o contrário do que os seus adeptos imaginam; nele e por ele, a vida luta contra a morte, a vida conserva a vida.” 138
“O sacerdote ascético,… é precisamente quem conserva e garante a vida.” …o que luta para reinar sobre os animais, sobre a natureza e sobre os deuses,…” 139
XIV
“Os doentes são o maior perigo da humanidade; não os maus, não as ‘feras de rapina.’” 140
… que querem? Representar a justiça, o amor, a prudência, a superioridade: tal é a ambição destes seres inferiores destes enfermos. E que hábeis os torna esta ambição! Estes incuráveis monopolizam toda a virtude: 141
“… a sua sensualidade estropiada, adornada com o nome de pureza de coração. Esta é a espécie de onanistas morais, que se satisfazem a si mesmos.” 142
Até nos sacrossantos domínios da ciência, se ouvem estes latidos destes cães doentes,” 142
Quando alcançarão o triunfo sublime e definitivo desta vingança? Indubitavelmente quando conseguirem infundir na consciência dos felizes a sua própria miséria.” 143
XV
“O sacerdote ascético… defensor do rebanho doente. A dominação sobre os doentes: eis o seu papel,…”144
“Tem que defender o seu rebanho, contra quem? Contra os sãos…” Aos animais de presa fará ele uma guerra de astúcias, mais do que de violência. 144
“Leva consigo o bálsamo e o remédio; mas necessita ferir antes de curar, e ainda ao acalmar a dor da ferida, envenena a chaga.” O sacerdote é um homem que muda a direção do ressentimento. 145
XVI
“… o estado de pecado no homem não é um fato, senão apenas a interpretação de um fato, a saber: de um mal estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e religioso” 147
“Recordem-se os famosos processos da bruxaria; naquela época os juizes mais humanos acreditavam que havia culpabilidade; as bruxas também o acreditavam; contudo, a culpabilidade não existia.” “Um homem forte digere os atos de sua vida como digere o almoço”. 148
XVII
O sacerdote ascético só combate o mal-estar, e não a causa da doença 148
“Os meios que se empregam contra a dor são os que reduzem a vida à sua menor expressão possível:” 150
“A anestesia, é para os doentes o bem supremo, o valor por excelência, o mais positivo.” 153
XVIII
“ Remontando-nos ás origens do cristianismo no mundo romano, achamos sociedades de socorros mútuos, associações para socorrer os pobres, para cuidar dos doentes, e para enterrar os mortes;” 154
XX
“… Fez-lhe interpretar a sua dor como um castigo… Agora compreende o desgraçado; agora está metido num laço; já não sabe sair; de doente converte-se em pecador…” “Sofrer! Sempre sofrer! Sofrer Mais! Tal foi o grito dos seu discípulos durante séculos” 161
XXI
Tal terapêutica fêz o homem melhor? Se melhorar significa (…) domesticar, debilitar degradar (…) a melhoria converte-se em aumento da doença.” 162
XXII
“O sacerdote ascético corrompeu a saúde da alma.”
A vaidade dos Padres da Igreja quer substituir a literatura grega.
XXIII
“O ideal ascético tem um fim tão amplo, que compreende em si, todos os fins da existência humana; para conseguir este fim, empregam-se tempos, povos e homens; é fim exclusivo; não admite outra interpretação senão a sua;” 166
“… hoje a ciência não tem finalidade, não tem vontade, nem ideal ascético, é o refúgio do descontentamento, da incredulidade, dos remorsos, (…), da má consciência; é precisamente a dor que causa a falta de ideal, a ausência de amor, a carência de liberdade.” 167
XXIV
“Nós, que procuramos o conhecimento, que desconfiamos de toda crença, tiramos conclusões diversas; onde vemos uma crença, temo-la por inverossímel.” A fé fará nascer suspeitas, será verossímil, mas não verdade.” 168
“Nada é verdadeiro, tudo é primitivo. Esta era a verdadeira liberdade de espírito, por em questão a verdade…” 169
É a força que leva a este ascetismo, esta vontade absoluta da verdade, é a fé no ideal ascético, é a fé no valor metafísico e eminente da verdade, valor que o ideal ascético garante e consagra.” 170
A nossa fé na ciência baseia-se numa crença metafísica… E se eu dissesse que precisamente o divino é o erro e a mentira…” 0 Por quê? É que o ideal ascético dominou em todas as filosofias e a verdade foi posta como essência, como Deus e não como problema.” 170
“A vontade da verdade necessita de uma crítica; é preciso por em dúvida o valor da verdade.” 171
XXV
“A ciência se apoia nas mesmas bases que o ideal ascético: ambos são um empobrecimento da energia vital.” 172
“O que é certo é que todos os filósofos transcendentais, depois de Kant, se emanciparam da tutela teológica.” 174
XXVI
“Mas tudo isso é ascetismo em alto grau, é niilismo. 174
XXVII
“ O ateísmo é também uma vontade, um resto de ideal ascético, a sua forma mais severa, mais espiritualizada, mais esotérica, mais pura.” 176
“O interpretar a história em honra de uma razão divina e como prova constante de um finalismo moral; o interpretar o nosso destino… vendo em tudo a mão de Deus… são modos de pensar contra os quais se ergue a voz da nossa consciência, como inconvenientes.” 177
“A vontade da verdade, uma vez que seja consciente de si mesma, será a morte do mal:” 178
“Esta falta de finalidade na dor é a maldição que pesou sempre sobre a humanidade. Agora bem: o ideal ascético apresenta uma finalidade. A interpretação que dava da dor trazia uma dor nova mais profunda, mais íntima, mais envenenada; disse que era o castigo de uma falta.” 178
“O homem prefere a vontade do nada ao nada da vontade.” 179.


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